LIPOVETSKY NO IPLA
Os novos desafios do homem hipermoderno
No dia 22 de maio de 2007, tivemos a oportunidade de receber o filósofo francês Gilles Lipovetsky, em uma reunião com o “Corpo de Formação” do IPLA e amigos convidados. Num clima descontraído, regado a vinho, Jorge Forbes coordenou a reunião.
Lipovetsky começou nomeando a sociedade atual como “hipermoderna”. O termo “pós-moderno” já não dá conta das transformações que ocorrem em velocidade vertiginosa. A hipermodernidade seria a exacerbação dos princípios da modernidade. Ela se caracteriza pela desestruturação dos mecanismos e dispositivos sociais e culturais que anteriormente regulavam a vida em sociedade e o indivíduo. Trata-se de um indivíduo imerso na aventura da autonomia, com a possibilidade de construir a si mesmo de acordo com a própria vontade.
Lembramos aqui “o homem desbussolado”, de Forbes, que na falta de um ideal paterno que o oriente e regule o seu gozo, tem que lidar com difícil tarefa de escolher entre as múltiplas opções e caminhos que lhe são oferecidos. Mas, talvez, o que diferencie o indivíduo hipermoderno de Lipovetsky e o homem desbussolado de Forbes, seja que este último não é um indivíduo, e sim um sujeito, como o conceitua Lacan. Um sujeito dividido, que, por isso mesmo, traz consigo sempre um desejo outro, uma outra possibilidade que não a de se render ao vazio e ao pessimismo.
O indivíduo hipermoderno, de que nos fala Lipovetsky, nos parece condenado fatalmente à decepção. A dissolução dos mecanismos regulatórios da sociedade levaria inevitavelmente a um quadro dominado pelas patologias individuais, o fracasso escolar, a desordem, o aumento do número de casos de depressão e tentativas de suicídio.
Forbes, em seu texto “Geração Mutante”, nos pergunta “O que fazer: Desesperar-se ou inventar? Como se inventar uma vida a partir dos cacos e não dos ideais?” A psicanálise aposta no novo, na surpresa, na possibilidade do encontro com o real ser algo criativo e transformador. O sujeito, frente à angústia do real, pode inventar a si mesmo e sustentar essa invenção com a força de seu desejo.
Essa nova posição subjetiva pressupõe o princípio responsabilidade – que o homem seja capaz de responsabilizar-se pelo desconhecido, pelo acaso, pela surpresa. Forbes nos diz que a pessoa não é só o que escolhe, voluntariamente livre, mas também o que lhe ocorre.
Na sociedade contemporânea, podemos ver cada vez mais pessoas responsabilizando-se pelo novo, inventando novas formas de laço social. São geralmente os jovens que nos mostram que, ao contrário do que poderíamos esperar, há saída para a angústia e a decepção. Não se pode trazer de volta o mundo que existia antes, mas pode-se criar a partir dos seus restos. Uma nova forma de amor é possível.
Eduardo Bertolini
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