SUJEITO E FILOSOFIA

DESCARTES

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Para Aristóteles o thaumazo, o espanto provocava o "filosofar" e filosofia se dava no "ócio produtivo". Essa expressão pode parecer um paradoxo para quem imagina que fazer filosofia seja sentar-se e associar livremente, até que idéias maravilhosas caiam de algum céu, que, diga-se de passagem, só poderia ser platônico – e que exigiu grande esforço mental de seu criador. Sem falar que, depois de Freud, sabe-se que "livre associação" não é em absoluto, livre. Na realidade faz-se necessário muito trabalho mental para encadear racionalmente idéias. Fazer filosofia está bem mais próximo de um trabalho braçal, se pudéssemos chamar “braçal” o trabalho mental.

Como já dissemos anteriormente, sujeito e consciência encontram-se relacionado nas mais diferentes filosofias. Mas, mesmo reconhecendo que tal se dá, não encontramos uma teoria geral sobre sujeito e consciência: temos pois, mais problemas.

Descartes é considerado o teórico do sujeito moderno, sujeito que teria acesso privilegiado da consciência a si-mesma por meio da reflexão solitária que chega ao cogito. Um texto privilegiado para estudar o sujeito cartesiano são as Meditações Metafísicas.

Algumas críticas feitas a Descartes seria de que o sujeito seria solipsista sem possibilidade de acesso às outras mentes; de que haveria uma dualidade de substâncias (res extensa e res cogitans); de que o ceticismo assumido inicialmente por Descartes jamais foi totalmente descartado; de que o "eu penso, eu sou" não é uma proposição, pois é  incorrigível, o sujeito se predica a si mesmo na verdade absoluta e não permite falseamento.

Descartes é de fato dualista e o método cético assumido na 1.a Meditação permite a separação radical entre corpo e alma (ou pensamento). Mas ele está longe de ser cético, quer provar a impossibilidade do ceticismo levando-o a um ponto de exaustão, que conduzirá ao cogito.

O cogito, sujeito cartesiano, sujeito racional é arrancado ao Malin Génie, e absolutamente solitário em sua verdade. Na 6.a Meditação o dualismo cartesiano junta alma e corpo, sublinhando que não há relação de exterioridade entre ambos.

Realmente, o cogito sum cartesiano não seria uma proposição pois não apresenta Valor de Verdade “verdadeiro” ou “falso” – é  incorrigível, o sujeito atribui-se um predicado. Em Descartes, o cogito não é mais um sujeito individual, mas o sujeito universal.

Surge em Descartes a liberdade do sujeito dentro do mundo, que vai permitir com que ele duvide, o sujeito situa-se em relação ao juízo. O mundo cartesiano não é mais um mundo pensado a partir do erro, do juízo falso sobre a natureza, mas é um mundo que dar lugar à ilusão, à alucinação, ao sonho.

Como é possível que este sujeito, cogito, verdade pura, possa errar?  Mesmo ao re-encontrar Deus e a garantia da Verdade  (que é como é, porque Deus assim o quer), o erro é um fato e só será possível porque há um descompasso no sujeito cartesiano, seu entendimento é finito enquanto sua vontade é infinita – e aí há um ponto de contato com Deus, que para o homem, a será motivo de erro ao ultrapassar a finitude do entendimento.

 

Pois é este sujeito, oriundo da teorizsação cartesiana que vai determinar aquilo que chamamos “Modernidade”. As questões e problemas que vieram num crescendo após o Século XIX não se desligam do “pensamento racional cartesiano”. Que está em Crise. Mas crise significa busca de solução, muitas vezes no escuro.

  

Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri
Coordenadora do Núcleo de Filosofia e Psicanálise